Caldeiras Aquatubulares

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Realizado por: Leonor Teixeira e Sérgio Lopes, no âmbito da disciplina de Integração e Intensificação de Processos, pertencente ao Mestrado Integrado em Engenharia Química (Departamento de Engenharia Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2016/2017).

Caldeiras Aquatubulares

As caldeiras aquatubulares são equipamentos destinados à produção de vapor, através do aquecimento de água, recorrendo à queima de qualquer tipo de combustíveis. Em paralelismo com as caldeiras flamotubulares, a energia fornecida para o aquecimento provém de um processo de combustão, contudo, para uma caldeira aquatubular, a corrente líquida (água) passa no interior dos tubos e os gases de combustão, responsáveis pela sua vaporização, circulam fora.


Funcionamento

Figura 1. Esquema geral do funcionamento de uma caldeira aquatubular. [1]

De um modo geral, as caldeiras aquatubulares consistem numa fornalha que é trespassada por uma rede de tubos, onde a água é aquecida até, pelo menos, evaporar (Figura 1). Adotando uma análise mais detalhada, é preciso ter em conta os tambores que compõem estas unidades. Estes são recipientes utilizados para o armazenamento de água e vapor, como ilustra a Figura 2. Nesta imagem, está representada uma caldeira com configuração “horizontal de tubos retos” (horizontal straight tube), composta por apenas um tambor e um sistema de tubos. Os tubos encontram-se na zona inferior do equipamento, e atravessam a zona da fornalha em contra-corrente com os gases de combustão. Este escoamento assegura que o aquecimento se dá inicialmente numa zona mais “fria”, sendo a água exposta a temperaturas cada vez mais elevadas ao longo do seu trajeto. Os tubos encontram-se dispostos segundo uma inclinação, que varia entre 5º a 15º [2], e a ascensão do fluido é provocada pela diminuição contínua da densidade da água. À saída da rede de tubos, a água é levada para um tambor na zona superior da caldeira, onde a água coexiste em ambos os estados: gasoso e líquido. O vapor é separado naturalmente da água e sai no topo do tambor. A alimentação da água dá-se na zona inferior do tambor, onde, por diferença de densidades, já se encontra a água com temperatura mais baixa. A água “fria” entra novamente no sistema de tubos no interior da fornalha, dando início a um novo ciclo.


Figura 2. Esquema do funcionamento de uma caldeira aquatubular horizontal de tubos retos. [1]

Vantagens

  • Elevada capacidade de produção de vapor (superior a 7 ton vapor/h [3]);
  • Maior taxa de produção de vapor por unidade de área de transferência de calor;
  • Possibilidade de utilização de temperaturas superiores a 450 ºC [4] e pressões acima de 150 psi [3];
  • A limpeza dos tubos é mais simples que na flamotubular e pode ser feita automaticamente;[5]
  • A vida útil destas caldeiras pode chegar a 30 anos;[5]
  • Menores dimensões.[5]

Desvantagens

  • Elevado custo inicial;[5]
  • Reduzida taxa de vaporização específica;[5]
  • Construção mais complexa, com custos superiores;
  • Requerem tratamento exigente da água de alimentação.

Combustível

Existe uma grande variedade de combustíveis que podem ser utilizados pelas caldeiras aquatubulares, como é o caso do gás, carvão, óleo e madeira. Todavia, é de destacar o gás natural como o mais comum, devido a ter bastante disponibilidade, ser barato e oferecer uma "queima limpa". O propano e alguns tipos de óleos são também industrialmente muito usados. É usual uma caldeira utilizar mais do que um tipo de combustível, o que permite que haja produção de vapor mesmo quando existe interrupção de um dos combustíveis, ou em períodos em que seja mais económico a utilização de um combustível secundário. O tipo de combustível influencia o design do equipamento.[6][7]


Água de alimentação

Na alimentação das caldeiras deve-se utilizar uma água cujas características sejam compatíveis com as especificações do equipamento. Quanto maior for a pressão de operação da caldeira, maior deverá ser o grau de pureza da água utilizada.

A água considerada ideal para alimentação de caldeiras é aquela que não provoca o aparecimento de incrustações, não corrói os metais da caldeira e seus acessórios e que não origine espuma. As águas com estas características são de difícil obtenção, sendo assim necessário um pré-tratamento que permita reduzir as impurezas até ao nível desejado para não prejudicar o funcionamento da caldeira[5].


Pré-tratamentos da água

  • Desmineralização da água por meio de resinas catiónicas e aniónicas;
  • Correção do pH da água para a faixa alcalina, a fim de evitar a corrosão ácida e acelerar a formação do filme de óxido de ferro protetor;
  • Tratamento do vapor condensado para neutralizar o ácido carbónico e eliminar o ataque ao ferro pelo cobre e níquel;
  • Em caldeiras de baixa pressão, com temperaturas inferiores a 200ºC, pode-se eliminar a desmineralização, não dispensando, todavia, o uso de água clarificada[5].


Componentes da unidade

Tambor de vapor

O tambor de vapor é um tanque de recolha para o vapor e água. Neste, a água e o vapor são separados através dos separadores de vapor existente neste equipamento. Após esta separação, o vapor ascende para o superaquecedor e a água desce para o tambor de lama. [8]


Tambor de lama

O tambor de lama (tambor inferior) encontra-se diretamente ligado ao tambor de vapor através de vários tubos retos (boiler bank tubes). Os sólidos e as lamas podem assentar neste equipamento, sendo posteriormente removidos através de uma purga periódica.

Um dessuperaquecedor pode ser instalado no tambor de lama de forma a recuperar calor de vapor superaquecido.

A drenagem do tambor é feita através de uma ou duas conexões de descarga da caldeira para controlar a percentagem de sólidos totais dissolvidos e /ou para drenagem completa da caldeira quando fora de serviço.[8]


A câmara de combustão

Também conhecida como fornalha, a câmara de combustão trata-se da seção da caldeira onde ocorre a queima do combustível de forma a gerar calor que por sua vez transforma a água em vapor.

Um projeto económico da câmara deve ter o menor volume possível, capaz de queimar por completo o combustível.[9]


Isolamento e refratários

Têm a função de isolar a fornalha, evitando que o calor da combustão se perca por entre as peças da caldeira, obtendo-se assim uma maior eficiência térmica.[10]


Estrutura e carcaça metálica

Responsáveis por proteger as peças internas e sustentar toda a estrutura da caldeira, minimizando as perdas de calor.[10]


Superaquecedores

Se a temperatura do vapor se encontrar acima da sua temperatura de saturação, este é denominado de vapor superaquecido. O superaquecedor é um permutador de calor usado para aumentar a temperatura do vapor. Estes são constituídos por feixes de tubos de alta resistência que podem suportar temperaturas até 600ºC.[8]

O superaquecimento do vapor saturado possibilita a utilização da energia antes da condensação da primeira gota de água, ou seja, toda energia fornecida ao vapor durante a fase de superaquecimento é transformada em trabalho sem ocorrer condensação.[9]

Na maioria das caldeiras aquatubulares industriais, o superaquecedor é colocado onde os gases de combustão retornam para a zona de convecção da caldeira.[8]


Economizadores

Os economizadores (permutador de calor) é um constituinte da caldeira utilizado para recuperar o calor do gás de combustão que sai da caldeira, aquecendo a água de alimentação antes de ser introduzida no interior da caldeira.

O aproveitamento do calor sensível dos gases de combustão traz um aumento de eficiência térmica do equipamento.[8]


Paredes d’água

A disposição da tubagem ao redor da câmara de combustão para extrair o calor de combustível para gerar vapor é designado de circuito de parede de água. Estas podem ser dispostas em linha ou em escalonamento e tratam-se de tubos refrigerados pela própria água.

As paredes de água absorvem o calor de radiação e absorvem aproximadamente 50% do calor total produzido na câmara de combustão.[8][9]


Aquecedores de Ar

Os aquecedores de ar são permutadores de calor usados para aquecer o ar que é usado no processo de combustão. Usualmente, utiliza-se o gás de combustão, após a passagem pelas seções de troca térmica, como fonte de energia para o aquecer o ar. O aproveitamento dos gases de combustão pode aumentar a eficiência global da caldeira em 5 a 10%.[9]

Os aquecedores de ar são classificados em dois tipos principais: recuperativos e regenerativos.[8]


Chaminé e ventoinhas

A chaminé e as ventoinhas garantem o fluxo continuo do ar e do gás de combustão. Os dois elementos combinados originam as diferenças de pressão necessárias para que não existam perdas de carga nas condutas de ar.[9]

Custos

Uma caldeira aquatubular pode custar até 50% mais que uma caldeira flamotubular de capacidade equivalente.[4] O seu preço ronda as dezenas de milhares de euros.[11]

Caldeira aquatubular
Figura 3. Caldeira aquatubular da THERMODYNE.[11]

Referências